São perfeitamente sublimes as técnicas de sedução do mundo vegetal.
A Primavera ainda nem chegou e eis que cada planta se esforça por demonstrar o seu potencial para frutificar e se reproduzir.
Na cidade ou no campo, em jardins ou nas bermas das estradas, em terra fértil ou em rocha escalvada, a Vida impôe-se em todo o seu esplendor.
Completamente impotente para transmitir todo esse magnífico poder, vou tentar apenas dar uma humilde ideia de como algumas plantas comemoram a Primavera.
A Acacia mearnsii é uma infestante invasora que preenche grandes áreas dos nossos espaços verdes e compete directamentes com as espécies endémicas e indígenas, de propagação menos fácil e crescimento mais lento.
Contudo, nesta época, como que a pedir desculpa, a acácia carrega-se de flores macias e enche o ar à sua volta dum perfume inebriante
Eis outra infestante invasora à qual quase apetece perdoar pelo seu aroma delicado, o incenseiro (Pittosporum undulatum):
De perfume mais suave, mas nem por isso menos agradável, as árvores frutíferas não só nos presenteiam com a beleza das suas flores, como prometem a delícia dos seus frutos.
"Perco-me" muitas vezes na horta/pomar a deliciar-me com o panorama que me envolve:
As flores acima são do araçaleiro amarelo (Psidium cattleianum),
E estas da laranjeira (Citrus sinensis),
As rosadas flores do pessegueiro (Prunus persica) cobrem-no, ainda antes das folhas despontarem.
E a ameixoeira-brava (Prunus spinosa), qual imaculada noiva de branco, rescende o seu aroma sublime:
Embora um pouco menos precoce, a ameixoeira amarela (Prunus domesticus) também dá um ar de sua graça:
Mas entre as minhas árvores frutíferas, eis o meu mais recente "ai-Jesus":
Não ... retirem esse ar de desilusão.
Acham pouco exuberantes estas flores?!
Para mim são muito importantes. É a primeira floração da minha lichieira (Litchi chinensis)
Não sei se irão frutificar, mas a promessa aqui está ...
Também a mangueira (Mangifera indica) não produz flores tão espectaculares como isso, mas os seus frutos são deliciosos:
Outras plantas frutíferas, de menor porte, mas não menos maravilhosas, exibem-se igualmente:
O morangueiro bravo (Fragaria vesca), que tem vindo a florir e frutificar durante quase todo o ano, começou a esmerar-se na "produção".
E até as endémicas uveiras da serras (Vaccinium padifolium) teimam em desafiar os que garantem que não "se dão" a altitudes inferiores a 600 m:
Contudo, acho que estão um pouco confusas, pois tem estado a florir e frutificar quase ininterruptamente todo o ano.
Neste preciso momento tem flores em vários estádios, frutos verdes e até maduros.
Tal como o morangueiro bravo, a pera-melão (Solanum muricatum) também começou a "caprichar" na quantidade de flores:
Da mesma família da pera-melão, as Solanaceae, aqui está a espectacular flor do tomateiro de capucho (ou de saco, se preferirem) (Physalis peruvianum):
Na horta propriamente dita e jardim de plantas aromáticas, outras espécies comestíveis também demonstram a sua exuberância.
É o caso das chagas ou capuchinha (Tropaeolum majus)
Muitas pessoas maldizem o seu aroma (chamam-lhe também bufas-de-senhora) que consideram pouco agradável. O cheiro do alho e cebola também são.
Vejam as chagas como flores comestíveis com um sabor picante, mas agradável. Muito ricas em vitamina C e luteína (boa para a visão), as chagas enfeitam e compõem saladas.
São deliciosas.
Igualmente comestíveis são as flores da borragem (Borago officinalis). Contudo, por precaução, não se deve abusar do seu consumo e as grávidas devem evitá-las, uma vez que contêm alcalóides pirrolizidínicos que, em excesso ou por uso continuado, podem provocar cirrose hepática, induzir o cancro do fígado e originar más formações nos bebés.
Assim como os cravos (Dianthus caryophyllus), cujas pétalas também se podem comer:
As "ervas" aromáticas estão mais aromáticas do que nunca.
Algumas já tinham começado a florescer timidamente, mas com a aproximação do términus do Inverno parecem ganhar novas forças.
As matricárias (Tanacetum parthenium e T. parthenium var. Snowball) saltam à vista:
As malvas aromáticas, como a malva noz-moscada (Pelargonium fragrans):
a malva-mentol (Pelargonium tomentosum):
e a malva-rosa (Pelargonium graveolens):
e a malva-limão (Pelargonium crispum):
floresceram, mas a sua beleza é incomparavelmente mais cheirosa.
O boldo-miúdo ( Pletrancthus neochillus), que tanto gosta de sol, exibe os seus chachos arroxeados:
Assim como o falso-boldo (Coleus barbatus):
O tomilho, segurelha para os madeirenses, (Thymus vulgaris) é um saboroso sonho para as abelhas:
Outro tomilho, o tomilho-limão (Thymus citriodora) é um pouco mais retraído na sua floração pré-Primavera:
Outras plantas de intenso aroma, como a erva-anis (Ocimum selloi) são mais modestas nas suas flores:
Parece ser característico do género Ocimum ter muito aroma, mas flores discretas. Aqui o estupendo alfavaca-cravo (Ocimum gratissimum), com o seu intenso perfume a cravinho:
Uma outra planta com flores humildes, mas doçura extraordinária é a estévia (Stevia rebaudiana):
As pequeninas flores brancas têm cerca de 0,5 cm de diâmetro, mas as suas folhas são 200 vezes mais adoçantes do que o açúcar.
A lindíssima e cheirosa alfazema da Madeira (Lavandula pinnata), endemismo da Macaronésia, também já apresenta as suas espigas roxas:
E o vibrante vermelho do meu jardim de ervas aromáticas, fica por conta da salva-ananás (Salvia rutilans), com uma "mãozinha" dos cravos, claro.
Neste plano, é possivel ver a profusão de cores:
Continua ...